Luana Ribeiro está em seu terceiro mandato como deputada estadual. Elegeu-se pela primeira vez em 2006, foi reeleita em 2010 e 2014, com expressivas votações. No mandato atual está na primeira vice-presidência da Assembleia Legislativa do Tocantins. Nesta entrevista ao Jornal Opção, a parlamentar aborda vários temas, como a participação da mulher na política, a destinação e prioridades de suas emendas parlamentares, participação indireta na campanha eleitoral de Palmas em 2016, além de outros assuntos. Luana confessa que gostaria de disputar a eleição para o Senado, para honrar e dar continuidade ao trabalho que seu falecido pai, senador João Ribeiro, realizou naquela Casa, mas reconhece que as condições financeiras e políticas tornam esse projeto muito difícil.
A sra. foi reeleita vice-presidente da Assembleia Legislativa, desta feita na chapa encabeçada pelo deputado Mauro Carlesse (PHS). É um sinal de confiança dos seus pares no seu trabalho?
Tenho um bom relacionamento nesta casa legislativa, contudo, essa eleição foi mais difícil, porque foi o cargo mais disputado do pleito (risos). A concorrência para o cargo de presidente polarizou, todavia, para o de vice-presidente e havia vários pretendentes. O que prevaleceu mesmo, neste caso, foram as boas amizades. Os colegas me concederam a honra de permanecer no cargo por mais um biênio.
Qual a importância do exercício deste cargo na sua carreira política?
Considero como uma experiência ímpar, mas além de tudo, um reconhecimento ao trabalho legislativo desenvolvido. Quem pratica atos de gestão é o presidente, sem dúvidas, entretanto, a parceria e presença do vice-presidente é sempre muito importante, mesmo porque assumo uma postura de auxílio e colaboração com a gestão do deputado Carlesse. Em suma, são mais responsabilidades e, por conseqüência, o trabalho é dobrado. Contudo, é gratificante poder contribuir com o bom andamento do processo legislativo.
No que concerne a destinação de emendas e recursos, por parte do seu gabinete, à população tocantinense, quais foram as realizações destes três mandatos?
As emendas parlamentares, que às vezes parecem pequenas, são de extrema importância para os municípios, tão carentes de recursos. Priorizei, neste ano, destinar emendas para construção de feiras cobertas em várias cidades. É que as feiras fazem parte da nossa cultura, do cotidiano do povo humilde do nosso Estado. Eu gosto tanto de feira – afinal são minhas origens – que propus um Projeto de Lei que torna a buchada, o chambari e a paçoca de carne como patrimônio histórico, cultural e gastronômico do Estado do Tocantins.
Em três mandatos, foram aprovadas 28 leis de minha autoria, entre as quais a do aleitamento materno em locais públicos; obrigatoriedade de água potável em estabelecimentos comerciais, como nos países desenvolvidos; o parto humanizado; além da criação do “Junho Vermelho”, que incentiva a doação de sangue, entre muitos outros projetos. Ainda estão em trâmite mais 25 proposições. Foram mais de 8 mil e 700 requerimentos em plenário em três legislaturas.
Recentemente, a sra. empreendeu viagens a Foz do Iguaçu (PR) e aos Estados Unidos da América. Quais eram os seus objetivos?
Viajei na condição de tesoureira da Unale – União Nacional dos Legisladores Estaduais, com a finalidade de participar de congressos e, obviamente, trocar experiências e adquirir conhecimento. Já estou na terceira legislatura na Unale e trata-se de uma experiência muito rica.
Na viagem a Boston, por exemplo, participei de uma das mais importantes conferências políticas do mundo, na qual se discutiu a importância da educação. O formato da educação nos mais diversos países foi o tema de várias palestras e grupos de discussões. Um debate riquíssimo, posso garantir. Já em Nova York, participei, na sede ONU, de palestras e outras conferências que trouxeram muito aprendizado.
Convém ressaltar que, na Unale, faço parte da Comissão de Desburocratização do Brasil. Em razão disso, pude conhecer o modelo americano no que se refere à abertura e fechamento de empresas, sem entraves ou burocracias. Esses conhecimentos e experiências serão objeto de discussão, em breve, na Unale.
A sra. tem uma ligação estreita com o setor agropecuário? Faz parte da sua base de sustentação política?
Em um mandato parlamentar há uma amplitude inimaginável de classes e setores a serem observadas e atendidas. Não é possível focar em apenas uma área, na medida em que são várias as necessidades sociais. Contudo, é inegável que o Tocantins tem sua economia baseada no agronegócio. Isso é cultural, venho de uma região eminentemente pecuária, Araguaína, e por tal razão, não há como fugir das discussões acerca deste tema. Busco, em meu mandato, contribuir para o fortalecimento da economia do Estado do Tocantins e, levando-se em consideração que a agricultura e pecuária são um destes pilares, estou engajada nesta luta.
Um dos maiores municípios produtores de grãos do Estado, Pedro Afonso, é administrado pelo seu partido, o PDT. Politicamente, como é a sua relação com o prefeito Jairo Mariano e a população daquela cidade?
A cidade tem se fortalecido bastante, exatamente em razão desta produção de grãos, e vem se tornando um polo de desenvolvimento. O prefeito, que hoje também comanda a Associação Tocantinense dos Municípios (ATM), é competente e comprometido com o modelo de gestão inovador e responsável. A cidade é um canteiro de obras e ele tem administrado de forma integrada, não priorizando uma área em detrimento da outra. Por sermos do mesmo partido, evidentemente que meu gabinete é a porta de entrada para os munícipes daquela cidade.
E em relação a Araguaína, a cidade que é considerada seu berço eleitoral?
Tenho uma excelente relação com o prefeito Ronaldo Dimas (PR) a quem apoiei no último pleito. São vários os recursos destinados àquela cidade, entre os quais, verbas para a construção da TO-222, que liga Araguaína ao distrito de Novo Horizonte, oriundos de parte do empréstimo de R$ 500 milhões, proposto pelo governo do Estado do Tocantins e que a Assembleia Legislativa tem discutido e realocado sua destinação.
Para essa obra, foram destinados R$ 41 milhões, valor mais que suficiente para concluí-la. Foi feito um pequeno contingenciamento para readequações, contudo, conversei com o prefeito e ele me disse que, enquanto gestor, é possível executar a obra com esse montante de recursos. A obra é de extrema importância para o desenvolvimento do Estado do Tocantins e, por isso, o parlamento está engajado nessa luta.
No dia 14 de novembro vamos comemorar o aniversário de Araguaína. Nesse dia, se Deus permitir, vamos inaugurar a Via Lago, um dos últimos recursos capitaneados pelo meu pai, o senador João Ribeiro. Na eleição de 2016, solicitei ao povo de Araguaína que Ronaldo Dimas fosse reeleito para concluir essa obra – que contou com o apoio de outros parlamentares – e, também, da bancada federal, entretanto, esta obra de extrema grandeza está intimamente ligada ao árduo trabalho parlamentar do senador.
No que concerne à decisão da Assembleia Legislativa de fatiar o valor do empréstimo com cada um dos municípios, de forma tal que o montante seja repartido igualitariamente, qual é o seu posicionamento?
Considerei de extrema valia, pois foram recursos realocados, na medida em que, inicialmente, seriam destinados para construção do anexo da Assembleia. Os municípios devem ser priorizados, pois é a onde a população reside, atua, empreende, trabalha e estuda, contudo, são os que ficam com a menor fatia do bolo. Esse modelo de divisão está equivocado e não adianta apenas rever o pacto federativo. É necessário se corrigir, também, a desburocratização, o modelo fiscal e tributário, respeitando as particularidades e especificidades de cada região.
Caso essas reformas fossem feitas, o Brasil seria outro país?
Além de todas as necessárias reformas, política, previdenciária e tributária, além da retirada dos entraves “burro-cráticos”, a solução, a longo prazo, é priorizar os investimentos em educação. Já dizia Darcy Ribeiro, ainda na década de 70, que se não construíssemos mais escolas, em 20 ou 30 anos construiríamos presídios. Foi exatamente o que ocorreu. A violência aumentou assustadoramente, até mesmo em um Estado pacato como o nosso.
O exemplo de Singapura é o mais latente e deve ser copiado. O país tinha altos índices de analfabetismo, desemprego, violência, caos econômico, saúde em frangalhos, etc. Os investimentos em educação foram priorizados e em duas décadas, todo o quadro foi alterado e os avanços foram extraordinários. A educação é a base de tudo e isso é inconteste. Educando nossas crianças, ensinando a elas os preceitos de cidadania e moral, evitaremos num futuro próximo a corrupção, o “jeitinho brasileiro”, como também, a superlotação das cadeias públicas.
Em relação a participação das mulheres no processo político, a sra. acredita que falta mais engajamento?
Acredito na igualdade e não tenho discursos machistas ou feministas. Contudo, não posso deixar de considerar que o espaço da mulher, nas mais diversas esferas da sociedade como um todo, ainda é discreto. Há estudos do IBGE e da Fundação Perseu, que provam que mesmo mais graduadas, as mulheres ainda têm ganhos inferiores aos homens. É necessário abrir oportunidades para elas e exemplifico lembrando da posse do governo Michel Temer, quando nenhuma mulher assumiu cargos no primeiro escalão. Ora, será que não há no Brasil nenhuma mulher capaz de assumir um ministério ou uma autarquia? Custo a crer.
Reconheço que no meio político também é muito complicado para as mulheres deixarem o seio familiar para se dedicar à política. Tenho por base o meu próprio exemplo: meu pai não gostava da ideia de eu enveredar pela política, mesmo sendo ele um político. Depois que decidi ele me apoiou, tornou-se o cabo eleitoral número um, mas antes não concordava. Penso que muitas mulheres enfrentam as mesmas dificuldades com os pais ou maridos, além de terem que abdicar da criação dos filhos ou dos afazeres domésticos. Há, inclusive, uma estatística interessante: 70% das deputadas federais chegam ao final do mandato separadas dos seus maridos. A localização geográfica da capital federal é um fator preponderante, sem dúvidas, contudo, essa ausência doméstica contribui para a ruptura desses laços familiares.
Ocupamos timidamente nosso espaço na sociedade e estamos longe da realidade dos países mais desenvolvidos, que geralmente têm 30% das cadeiras parlamentares ocupadas por mulheres. Nesse parlamento, por exemplo, dos 24 deputados, apenas 3 são mulheres e na Câmara de Vereadores de Palmas, de 19 parlamentares, só duas mulheres.
Então, qual é o fator preponderante que contribui para essa espécie de “desestímulo”?
O custo de uma campanha eleitoral é muito alto. O processo é muito seletivo. Nem todas as mulheres possuem tal cacife monetário. Não vou aqui ser hipócrita e dizer que todas podem se candidatar, seria desonesto da minha parte.
Na última eleição municipal, a sra. não registrou candidatura, em que pese ser uma das pré-candidatas mais cotadas para concorrer ao cargo de prefeita de Palmas. Por quais razões isso aconteceu?
Meu pai sempre dizia que, na política, tem que combinar primeiro com o povo. Eu penso assim também. Havia um campo aberto para registrar a candidatura, contudo, a verdade tem que ser dita: uma campanha eleitoral é extremamente dispendiosa e eu não tinha essa disponibilidade financeira. A luta contra as duas máquinas administrativas, estadual e municipal, era inglória. Sou corajosa, mas tenho os pés no chão. Jamais seria candidata de mim mesmo e ao final do sufrágio, ter uma votação inexpressiva.
Que fator a sra. considera relevante para a derrota do candidato apoiado pelo seu partido?
O PDT decidiu apoiar a candidatura de Raul Filho. Então, entrei de cabeça na campanha do primeiro ao último dia. Acredito que a insegurança jurídica, a falta de verbas para custear a campanha, a divisão das oposições, além do enfretamento das máquinas administrativas, contribuíram para a derrota.
E para 2018, quais são suas perspectivas?
Naturalmente, sou candidata a reeleição de deputada estadual. Espero que a população tocantinense aprove o meu trabalho no parlamento e me conceda mais uma oportunidade de trabalhar em prol da sociedade. Minha atuação se dá nas bases e priorizo a minha presença nos municípios diuturnamente.
Se houvesse – uma única chance! – de disputar uma vaga no Senado Federal, eu agarraria com todas as minhas forças, unhas e dentes. Tenho desejo de dar continuidade ao incrível trabalho do senador João Ribeiro no Senado, preservar sua história e seguir os mesmos passos do meu pai. Entretanto, além do alto custo da campanha, há também a questão das alianças políticas, legendas competitivas e uma chapa com condições de sair vitoriosa. Eu teria o apoio incondicional do PDT, mas isso apenas, não basta.